terça-feira, 25 de novembro de 2014

HINOS DE MARTINHO LUTERO (REFLEXÃO)


    HINOS DE LUTERO COMENTARIO E REFLEXÃO N.1


01/12/1534
Eu venho a vós dos altos céus
Hino 15

1. Eu venho a vós dos altos céus, trazendo o anuncio bom de Deus;
da boa nova hei de cantar, quero exaltar e jubilar.
2. Menino lindo vos nasceu, Maria foi que à luz o deu;
é tão pequeno, terno e bom! Cantai louvor em claro tom!
3. É Cristo, Deus, nosso Senhor, liberta-vos de toda a dor;
vem mesmo para vos salvar e do pecado vos livrar.
4. Felicidade singular o Pai vos soube preparar:
Jesus vos traz a salvação de sua celestial mansão.
5. Vede, ó pastores, os sinais: Assim o Salvador achais:
Na pobre manjedoura jaz o eterno Príncipe da Paz.
6. Ó vinde todos jubilar, com os pastores adorar.
Olhai o que Deus Pai nos deu: O bem-amado Filho seu.
7. Ó sê bem-vindo, meu Salvador! Não desprezaste o pecador!
Tu vens comigo aqui sofrer: Como é que eu posso agradecer?
8. Louvor e glória ao Pai no céu, que o Filho amado ao mundo deu!
Os anjos jubilando estão, nos cantam ano novo e bom.


                                                    1.)  Comentário e reflexão  
                                        Eu venho a vós dos altos céus -Nº 15

Este é um dos 37 hinos de Martim Lutero. Lutero era pessoa um tanto rude, porém, não era nenhum puritano. Ele era um amante apaixonado de música e poesia popular. Ele disse: Eu gostaria de ver todas as artes, especialmente a música, a serviço daquele que as criou e nos deu. Ele mesmo tocava flauta e outros instrumentos e escreveu várias peças para os seus filhos, sendo muito estimadas pela cristandade as que produziu para as crianças. Ele gostava muito de crianças, ele teve um sentimento profundo para a festa de Natal. Em 1534 ele escreveu para os seus filhos (incluindo o seu pequeno filho Hans) um dos mais deliciosos e comoventes de todos os hinos de Natal - Vom Himmel hoch da komm ich her (Eu venho a vós dos altos céus). De acordo com Clemente A. Miles, o primeiro verso foi inspirado por uma canção secular : Aus fremden Landen komm ich her (Venho de terras estrangeiras).
Pela primeira vez o hino foi publicado na coleção Geistliche Lieder em Wittenberg, 1535, com o título Ein Kinderlied auf die Weihnacht Christi. (Uma canção para crianças a respeito do Natal de Cristo). Inicialmente o hino foi cantado pela melodia original da canção popular. Depois o hino passou a ser cantado com a melodia, atribuída ao próprio Reformador, composta em 1539.
Lutero amava a sua família. Com ela executava música em seu lar. No Natal de 1534 a família Lutero já contou com 5 filhos: Hans (*07-06-1526), Lene (*04-05-1529), Paul (*1530), Martin (*1531) e a Margarete (recém-nascida em 17-12-1534). O hino contava originalmente com 15 estrofes. Na comemoração do Natal, em casa de Lutero, primeiro um adulto vestido de anjo cantou (nas seis estrofes iniciais e no HPD as estofes 1 a 6) a boa notícia que o anjo trouxe aos pastores. Esta declaração foi seguida pela resposta dos pastores, e nossa saudação de boas-vindas ao nosso Salvador (as próximas 9 estrofes foram cantados em resposta pelas crianças de Lutero, sendo a última cantada em conjunto pelo anjo e as crianças). Deste jeito Lutero conseguiu ensinar seus filhos pequenos a história do nascimento de Jesus e levá-los à gratidão a Deus. – Corais assim extensos eram usuais naquela época. Mas, para que se tornasse possível o seu uso pela comunidade eclesiástica, o próprio Lutero logo o reduziu a sete estrofes.
Johann Sebastian Bach (1685-1750) usou este coral três vezes em seu famoso Oratório do Natal: uma na primeira parte, e duas na segunda, sempre harmonizado de modo diferente. E ainda o usou em seu Magnificat, sob a forma de pequeno moteto, logo após o Et exultavit. Ao escolher as estâncias para os corais de suas cantatas, paixões e oratórios, Bach não hesitava em desligá-los do todo; vemo-lo com freqüência aproveitar uma só estrofe de determinado hino.

O hino desfrutou grande popularidade na Alemanha desde que foi escrito. Há uma história não comprovada (mas freqüentemente repetida) que este canto alegre teve uma certa importância na Véspera de Natal de 1870, durante a guerra entre França e Prússia. A história conta que, inesperadamente, um soldado francês saltou fora da trincheira dele e cantou um Cântico de Natal em francês. Movido pela canção, os alemães não atiraram contra o soldado francês, mas inspirado pelo sentimento, um soldado alemão saiu da trincheira dele e cantouVom Himmel hoch da komm ich her (Eu venho a vós dos altos céus) de Lutero, um hino de Natal popular na sua pátria. - Há notícias de que algo semelhante aconteceu na Segunda Guerra Mundial com o bonito cântico natalino austríaco Stille Nacht! Heilige Nacht!, cantado por soldados em trincheiras em ambos os lados.




                                                                24/12/1523
                                                  Louvado sejas, ó Jesus!
                                                                 Hino 18     
      
24/12/1523
Louvado sejas, ó Jesus!
Hino 18
1. Louvado sejas, ó Jesus! Resplandece o céu em luz.
Da virgem nasces em Belém; os anjos cantam: Cristo em! Aleluia!

2. Filho unigênito do Pai jaz na manjedoura, olhai!
Em nossa carne e sangue vem o eterno e mais precioso bem. Aleluia!

3. A luz eterna vem brilhar, nosso mundo iluminar;
em nossa noite raia a luz que ao Reino celestial conduz. Aleluia!

4. O Filho, que Deus muito amou, homem pobre se tornou;
quer nos livrar de todo o mal, quer dar-nos glória celestial. Aleluia!

5. Jesus tornou-se nosso irmão; jubilai com gratidão!
Cantai-lhe graças, daí louvor por seu imenso e eterno amor. Aleluia! 

Autor da letra: Martinho lutero



Louvado sejas ó Jesus
Comentário e Reflexão
 hino 18 - Louvado sejas, ó Jesus
Textos bíblicos: Romanos 8.29; Hebreus 2.11-17;

O HPD nº 18 - Louvado sejas, ó Jesus é um dos hinos do reformador Martin Luther, que conta entre os primeiros que ele compôs. Provavelmente foi feito por volta do Natal de 1523, pois na sexta-feira após Epifania (ou seja: após 6 de janeiro) de 1524 já se achava impresso em folhas avulsas. E no mesmo ano de 1524 se encontra no “Enchiridion de Erfurt” e no “Gesangbüchlein de Johann Walther”.

A melodia foi conhecida já por volta de 1460 em Medingen, ela foi encontrada num convento entre manuscritos feitos por freiras.

Para vários de seus hinos Martin Luther tem recebido impulsos de cânticos mais antigos. Provavelmente também para o “Louvado sejas, ó Jesus” ele baseou a primeira estrofe numa poesia da Idade Média (cerca de 1370)1  que tem o mesmo ritmo e o mesmo conteúdo:

“Lovet sistu ihu crist,

dat tu hute gheboren bist

van eyner mahget. Dat is war.

Des vrow sik al de hemmelsche schar. Kyr.”

Assim a primeira estrofe no hino de Martin Luther ainda reflete o espírito da Idade Média. A respeito do nascimento do Salvador as mentes naquela época se ocupavam principalmente com dois temas (a) a virgindade e (b) os anjos. Os teólogos se empenharam a desvendar o incompreensível mistério do nascimento de Jesus por uma mãe virgem. Foi em vão. Mas a Virgem Maria continuou a ter um lugar de destaque na Igreja Católica Romana. O segundo tema de maior interesse na Idade Média foi a participação dos anjos. Acreditava-se que os anjos fossem dirigentes dos astros e que nos astros estivessem escritos os destinos dos seres humanos.

Martin Luther deixa à Virgem e aos anjos os seus lugares que eles têm na Bíblia (Mateus 1; Lucas 1 e 2). Porém, nas demais estrofes, ele dirige nossa atenção para a última palavra, que, no original alemão, usa a expressão grega “Kyrioleis” (de Kyrie eleison = Senhor, piedade). Os tradutores do HPD 18 substituíram este grito de socorro pelo voto de louvor hebraico “Aleluia” (Louvado seja Deus)2.

A partir da segunda estrofe, Luther acentua o fato de que com a vinda de Jesus para este mundo foi vencida a imensa distância entre o eterno e o passageiro, entre o infinito e o transitório, entre Deus e os seres humanos. (veja Filipenses 2.6-8). Observe na 2ª estrofe os contrastes entre “nossa carne e sangue” por um lado e “o eterno e mais precioso bem” por outro. E na 3ª estrofe “a luz eterna” e a “noite” escura de “nosso mundo” (Ev. João 1.5+9).

As 4ª e 5ª estrofes descrevem o porque do nascimento de Jesus, acentuando o grande, imenso, eterno amor de Deus e lembrando Ev. João 3.16: “Deus amou ao mundo de tal maneira que deu o seu Filho unigênito...”. Deus chegou tão perto de nós. Por isso “jubilai com gratidão! Cantai-lhe graças, dai louvor”, seja com o grego Kyrie eleison, ou seja com a palavra hebraica Aleluia!

A melodia deste hino foi trabalhada desde 1544 (Balthasar Resinárius) até o século XX por inúmeros compositores, entre eles Johann Sebastian Bach (BWV 91, 604, 722).

Notas:

1. Manuscrito da época de 1370 guardado em Kopenhage.


2.  Kyrie eleison (=Senhor, misericórdia) já bem antes do cristianismo, foi usado como tributo de homenagem e veneração a soberanos e divindades. No cerimonial da corte antiga o Imperador foi saudado com esta aclamação solene, sempre que entrava no recinto. Os judeus dispersos em terras de língua grega usaram o título Kyrios para o Deus de Israel (Adonai, Senhor). No início do cristianismo o termo Kyrios tornou-se designação central para a soberania de Jesus Cristo (p.ex. Filipenses 2.10+11). Os cristãos, ao confessarem „Cristo é o Senhor“, distanciaram-se claramente dos cultos prestados aos soberanos e outras divindades. - Mais tarde a aclamação Kyrie eleison (Senhor, piedade) fazia parte da liturgia do culto na Igreja Ortodoxa Grega. Cerca a partir do ano 500 foi usada também na liturgia da Igreja Romana, onde a língua oficial era o latim; porém, manteve-se a expressão Kyrie eleison na língua original grega. - Na Idade Média a música na Igreja era executada pelo coral litúrgico e pelo clero. Em consequência disso o canto congregacional nos cultos foi diminuindo em grande parte da Europa central. Mas na Alemanha o canto congregacional sobreviveu através dos Leisen. Canções sacras que incluiram ou terminaram com o Kyrie eleison, (que podia ser contraída para kirleis ou leis) cantado pelo povo da igreja, eram chamadas de Leisen. Já que naquela época grande parte do povo era composto de analfabetas pode-se concluir que nem sabiam o que estavam cantando. O Kyrie eleison era para eles uma expressão de alegria ou um voto de louvor, equiparado ao Aleluia de origem hebraica.

fonte luteranos 



Ó Jesus Cordeiro, tiras o pecado e o mal
Hino 49 Jesus, Cordeiro, tiras o pecado e o mal
Hino 49
Ó Jesus, Cordeiro, tiras o pecado e o mal – tem piedade!
Ó Jesus, Cordeiro, tiras o pecado e o mal – tem piedade!
Ó Jesus, Cordeiro, tiras o pecado e o mal – tua paz concede!
Amém.


Comentário e reflexão

HPD 49 e 55 Agnus Dei (Cordeiro de Deus)
Eis o Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo (Ev. João 1:29).

Uma oração fervorosa, baseada nesta passagem da Escritura, fazia parte do serviço do altar na liturgia grega, na igreja antiga. Na igreja Ocidental também foi usada desde cedo como parte da liturgia da eucaristia. O Papa Gregor o Grande incluiu isto no Liber Sacramentorum dele do sexto século. No sétimo século tornou-se habitual que o padre cantasse esta oração. O Papa Sergius (687-701) ordenou que deveria ser cantado pelo padre e a congregação e que deveria ser usado na eucaristia. Mais tarde foi decretado que deveria ser cantado somente pelo coro, depois da consagração dos elementos e imediatamente antes da distribuição. No décimo segundo século ficou habitual repetir a oração três vezes, mas com palavras de conclusão diferentes, como segue:
Agnus Dei, qui tollis peccata mundi, parce nobis!
Agnus Dei, qui tollis peccata mundi, miserere nobis!
Agnus Dei, qui tollis peccata mundi, da pacem nobis!
O Bispo Durandus (+1207) diz a esse respeito: Ninguém manifestou maior paciência debaixo do mais intenso sofrimento, tentação, e angústia que nosso querido Salvador, portanto a Igreja se maravilha disto e canta três vezes o ' Agnus Dei, qui tollis peccata mundi, ' etc. Ao repetir isso, consideraremos nós como nosso Senhor Jesus (1) carregou nossos pecados, (2) levou sobre si o castigo, (3) pela pregação do Evangelho e pela distribuição do sacramento Ele trouxe os méritos dele em nossos corações (Skaar).

Martim Lutero, na sua primeira ordem para o culto com Santa Ceia, reteve o Agnus Dei para ser cantado em latim, e ele acrescenta que, de todas as várias partes do serviço do altar, esta especialmente é própria para uso com o sacramento santo. Mas na Deutsche Messe dele de 1526 ele prefere também ter o Agnus Dei cantado no alemão. Sem dúvida ele se referiu então à versão seguinte: Christe, du Lamm Gottes, der du trägst die Sünde der Welt, erbarme dich unser! Christe, du Lamm Gottes, etc., erbarme dich unser! Christe, du Lamm Gottes, etc., gieb uns deinen Frieden! No HPD nº 49 foi traduzido por: Ó Jesus, Cordeiro, tiras o pecado e o mal – (1) tem piedade; ...(2) tem piedade; ...(3) tua paz concede! Amém.
O cântico Agnus Dei em sua forma extensa (HPD nº 55) foi escrito por Nikolaus Decius no dialeto Baixo-alemão. Consiste em sete linhas que são cantadas três vezes. A única mudança acontece na última linha da terceira estrofe, como segue:
1. O Lamm Gades vnschüldlich / am stam des crützes geslachtet, / all tydt gevunden düldich, / wo wol du wordest vorachtet; / all sünd heffstu gedragen / syst moste wy vortzagen. / Erbarm dy vnser, o Jesu!
2. O Lamm Gades vnschüldlich am stam des, u. s. w. Erbarm dy vnser, o Jesu!
3. O Lamm Gades vnschüldlich am stam des, u. s. w. Giff uns dynen frede, o Jesu.

Esta versão, intitulada por Dat Agnus Dei, apareceu primeiro em 1531 em Rostock no Geystlycke Leder de Dietz. Mas ela deve ter sido escrita mais cedo, como mostra uma tradução dinamarquesa, editada por Klaus Mortensøn1 em 1528. A versão em alto-alemã do hino de Decius achou lugar logo nos diversos hinários da Alemanha, p.ex. em 1539 no Gesang Buch de Valentin Schumann, em Leipzig. Era geralmente usado como um hino de Santa Ceia. Também foi cantado na Sexta-feira-Santa. Em Württemberg repicaram os sinos de igreja enquanto o Agnus Dei foi cantado como o hino final. Porém, o hino de Decius não eliminou o antigo Agnus Dei. Mesmo nas traduções do nosso HPD ainda permanecem as duas versões. (HPD nº 49 e 55).



Cristo entregou-se à morte
Hino 57
1. Cristo entregou-se à morte, livrou-nos do pecado;
a vida foi mais forte: Senhor, ó sê louvado
Nós queremos exultar e eternamente exaltar.
Cantamos aleluia, aleluia!
2. Ninguém a morte dominou, com seu poder ingente;
eis que o pecado o mal causou; não houve um inocente.
Pois a morte triunfou, nos seus grilhões nos apresou;
as trevas dominaram. Aleluia.
3. Cristo Jesus, Filho de Deus, do céu foi enviado;
venceu a morte e os males seus, venceu todo o pecado.
Perdeu a morte o seu poder, Jesus a conseguiu vencer;
seu aguilhão tirou-lhe. Aleluia.
4. Houve uma guerra estranha: Prevaleceu a morte.
Mas não valeu-lhe a sanha: A vida foi mais forte.
Quando Gólgota expirou, Jesus a morte aniquilou.
O inferno foi vencido. Aleluia.
5. Sim, Deus mandou o Filho seu, que é o real Cordeiro;
por ter-nos grande amor, sofreu, morrendo no madeiro.
O sinal de sangue está em nossa porta e impedirá
que à morte sucumbamos. Aleluia.
6. Nós festejamos com louvor a Páscoa em alegria,
pois ressurgiu o Salvador, raiou um novo dia.
Cristo, a graça divinal, nos fulge em brilho celestial.
Ele é a nossa vida. Aleluia.
Cristo entregou-se à morte
Comentário e Reflexão

Letra: Martin Luther, 1524
Melodia: do século 11, adaptada por Martin Luther, 1524
Textos bíblicos: Apocalipse 5.9; Exodo 12.13; 1 Timóteo 1,10; 1 Coríntios 15.54seg.
“Cristo entregou-se a morte” (Christ lag in Todes Banden) é um coral da autoria de Martin Luther. Ele foi publicado em 1524 no Enchiridion de Erfurt, com o sub-título “O coral ‘Cristo ressuscitou’ melhorado”.
No original alemão o coral conta com sete estrofes. As seis primeiras encontramos traduzidas em nosso hinário HPD. O hino celebra a ressurreição de Jesus, com particular referência a uma luta entre a vida e a morte. Para as primeiras quatro estrofes Martin Luther emprestou idéia e termos de uma antiga canção latina: “Victimae paschali laudes” (veja também o hino de HPD nº 61)1.
A 1ª estrofe convida para louvar, exultar e cantar porque Cristo nos libertou das algemas do pecado. A 2ª estrofe descreve o grande e indomável poder da morte; parece que pecado e morte estão triunfando, pois “todos pecaram e carecem da glória de Deus” (Romanos 3.23). Mas na 3ª fica claro que Jesus venceu esta luta, pois removeu “o aguilhão da morte” ( 1 Coríntios 15.56); a “picada” do pecado não incomoda mais. A 4ª estrofe acentua que não se trata de uma brincadeira, mas foi “uma guerra estranha” ou esquisita (no original “ein wunderlicher Krieg”). Ela descreve bem a agitação e inquietude da luta: ora um guerreiro parece mais forte, ora outro, até que finalmente se pode cantar “O inferno foi vencido. Aleluia”. A 5ª estrofe com o “real Cordeiro” e “o sinal de sangue na porta” recorda como Deus havia libertado o seu povo do jugo no Egito . Nas entrelinhas descobrimos João 3,16 “Deus amou ao mundo de tal maneiro que deu o seu Filho unigênito”. Na 6ª estrofe observe os termos usados! Quantas e quais as palavras que descrevem o raiar do sol da Páscoa que nos dá esperança e alegria e nos faz cantar “Aleluia”?

A melodia usada por Luther para este hino parece ter forte correlação com partes da Sequência litúrgica para o dia de Páscoa:”Victimae paschalis laudes”, Acredita-se que a melodia original tenha sido escrita por Ompi da Borgonha , no século 11. Este foi transformado, gradualmente em uma Leise, (uma canção devocional em alemão do tempo antes da Reforma Luterana) mas manteve as características de cantochão. Luther elaborou uma nova versão melódica, que foi publicada no Enchiridion de Erfurt (1524). E Johann Walter fez uma adaptação para o seu Wittembergisch Geistlisch Gesangbuch (1524).


Ó Santo Espírito do Senhor
Hino 82
1. Ó Santo Espírito do Senhor,
dá-nos fé e verdadeiro amor!
Queiras confortar-nos
em nossa vida;
tua igreja mantém unida.
Kyrie eleison.
2. Sagrada luz, vem resplandecer.
Cristo só nos faze conhecer!
Que permaneçamos
com ele unidos,
pois por ele fomos remidos.
Kyrie eleison.
3. Ó poderoso Consolador,
vem, reveste-nos com teu vigor!
Que na desventura
não pereçamos,
mas, lutando,por ti vençamos.
Ó Santo Espírito do Senhor
Comentário e Reflexão
Letra: 1ª estrofe do século 13; 2ª-4ª estrofes de Martin Luther, 1525
Melodia: do séc.13, Jistebnitz 1420; adaptado em Wittenberg 1524.
Textos bíblicos: 1 Coríntios 12.3; Filipenses 2.2+3; Filipenses 3.20.
HPD 82 Ó Santo Espírito do Senhor (Nun bitten wir den heiligen Geist) faz parte do grupo1  dos primeiros corais luteranos. A primeira estrofe já era conhecida no século 13. Ela é uma das mais antigas “Leisen” em língua alemã2. Martin Luther apreciava muito esta Leise. No ano de 1523, dentro do texto da “Formula Missae”, ele escreveu: “Faltam-nos poetas. Por isso, por enquanto, admitimos que se cante após a distribuição da Santa Ceia ‘Deus seja louvado e exaltado, pois pessoalmente nos alimentou...etc.’Além desta canção também interessa ‘Ó Santo Espírito do Senhor’.” No ano de 1524 ele pessoalmente compôs mais três estrofes. Além da primeira estrofe ainda a segunda e a quarta estão em nosso hinário. A terceira foi omitida. Infelizmente, o tradutor não se esforçou a permanecer fiel ao texto original.
A 1ª estrofe, no original alemão, é uma prece dirigida ao Espírito Santo. Pedimos que o Espírito Santo nos dê principalmente “a verdadeira fé”. Essa fé queira confortar-nos no fim da vida, quando voltamos deste mísero mundo para a pátria celestial (Fp 3.20). O monge Berthold von Regensburg (1210-1272)3   transmitiu essa antiga Leise numa de suas prédicas. Por isso conclui-se que ela já era bem conhecida no século 13. Na época foi cantada principalmente em funerais. Ali a palavra final Kyrieleis (no sentido de “Senhor tem piedade”) se ajusta muito bem. Em nosso hinário HPD 82 consta entre os hinos para Pentecoste.
Na 2ª estrofe Martin Luther compara o Espírito Santo com uma “sagrada luz” que brilha ou “resplandece”. Ela ilumina nossa mente ou entendimento. Ela nos faz conhecer quem é Cristo. Aqui a tradução é mais fiel ao original. Compare esta estrofe com a explicação de Martin Luther ao 3º Artigo do Credo Apostólico no Catecismo Menor: “Creio que por minha própria inteligência ou capacidade não posso crer em Jesus Cristo, meu Senhor, nem chegar a ele. Mas o Espírito Santo me chamou pelo Evangelho, iluminou com seus dons...”
Nas 1ª e 2ª estrofes Martin Luther ressaltou a importância da fé. Na 3ª estrofe ele passa a falar do amor cristão, que é presente do “doce amor”. Ele usa termos da antiga antifonia latina „Veni Sancte Spiritus...“, a qual se baseia nos textos bíblicos de Efésios 4.2+3 e Filipenses 2.2.
Tu, doce amor, presenteia-nos com tua graça,
deixa-nos sentir o fogo (ou calor) do amor,
que nos amemos uns aos outros de coração
e vivamos em paz unidos, tendo todos o mesmo sentimento.
Kyrioleis.4
Esta oração pelo verdadeiro amor é tão importante como a prece pela verdadeira fé. Exatamente hoje em dia, onde é grande a influência de egoismo e desamor, brigas e separações, precisamos da ação do Espírito Santo, para que voltem a reinar amor ao próximo, paz, união e „o mesmo sentimento que houve também em Cristo Jesus“ (Filipenses 2,5).
O conteúdo da 4ª estrofe podemos resumir com a palavra „Esperança“. Nós não temos motivos para desesperar nas turbulências desta vida. O Espírito Santo é chamado de „poderoso Consolador“ (João 14.16+26; João 15.26). Ele nos consola e pode „revestir-nos com vigor“ (Atos 1.8). Ele pode dar-nos coragem para enfrentar toda sorte de desventuras, inclusive a própria morte e o juizo final.
A mais antiga publicação das quatro estrofes deste hino encontra-se na Coleção de Corais de Johann Walther, de 1524. No mesmo ano o hino também foi publicado no „Teutsch Kirchen ampt“ de Estrasburgo. No ano de 1525 apareceu em vários Enchirídios. Porém, em nenhuma destas edições consta o nome do autor. Somente a partir de 1528 (Enchiridion de Zwickau) encontra-se como autorMartin Luther. No ano de 1542 Luther incluiu este hino em sua coleção de „Christliche Gesänge, lateinisch und deutsch, zum Begräbnis“ (Cânticos Cristãos , em latim e alemão, para funerais).
Notas:
1.Outros são HPD 18 (Natal) e 57 (Páscoa)
2. “Leisen” chamavam-se as canções que terminavam com “Kyrie-eleison” cantado pelo povo em língua alemã depois que o coro havia encerado o cântico litúrgico em latim.
3.Berthold de Regensburg era frade mendicante que atraia grande número de ouvintes. Em suas prédicas criticava a sociedade capitalista da primeira fase.

4. Inglês:
FONTE LUTERANOS.COM



Nós cremos todos num só Deus
Hino 88
1. Nós cremos todos num só Deus, Criador de céu e terra.
Nós todos somos filhos seus; nele todo o amor se encerra.
Quer unir-nos com carinho, alma e corpo preservar-nos;
tira o mal que há no caminho; perdição não há de alcançar-nos.
Protege-nos com seu amor. Tudo está nas mãos do Senhor.
2. Nós cremos todos em Jesus, Filho Seu, Deus glorioso,
eterno, como o Pai na luz, Deus igual e poderoso.
Foi nascido de Maria, pelo Espírito gerado;
trouxe a nova da alegria, em favor do homem condenado.
Na cruz foi morto, mas por Deus, ressurgiu e retornou aos céus.
3. Nós cremos todos com fervor em o Espírito Divino.
Com Deus e com Jesus, Senhor, o adoramos em nosso hino.
Guarda toda a cristandade e a conserva sempre unida;
perdoando a iniqüidade, nos concede a eterna vida.
Após a luta, o Senhor há de nos levar ao seu fulgor.

Nós cremos todos num só Deus
Comentário e Reflexão
HPD 88 – Nós cremos todos num só Deus
Letra: Martin Luther, 1524, baseado numa estrofe de Breslau 1417 e Zwickau 1500.
Melodia: do século 15, adaptado em Wittenberg 1524.
“Nós cremos todos num só Deus, Criador de céu e terra... (Wir glauben all an einen Gott, Schöpfer Himmels und der Erden) HPD nº 88 é mais um hino da autoria do reformador Martin Luther. Já bem antes do movimento da Reforma existiam duas versões em língua alemã, de uma só estrofe cada, com conteúdo semelhante: a versão de Breslau do ano 1417, e a versão de Zwickau por volta do ano 1500.
A partir do ano de 1523 o jovem Stephan Roth da cidade de Zwickau morava em Wittenberg. Ele frequentava a casa dos Luther. Supõe-se que Roth tenha dirigido a atenção de Martin Luther ao cântico na versão de Zwickau e o tenha estimulado a compor um novo hino. Pois logo no ano de 1524 as três estrofes de Luther foram publicadas na coleção de hinos de Johann Walther em Wittenberg.
Neste hinário de J. Walther elas constam após os hinos de Páscoa e de Pentecoste, antes do hino da Trindade “Gott der Vater wohn uns bei...” (Deus o Pai assista a nós...). No ano de 1526 Luther editou a “Deutsche Messe und Ordnung des Gottesdienstes” (Missa alemã e ordem do Culto). Nela ele substituiu o Credo da missa católica romana pelo hino “Nós cremos todos num só Deus”, ou seja, seu hino se tornou hino de confissão de fé. A partir do ano de 1528 muitos hinários imprimiram como sub-título as palavras “Das Patrem zu deutsch” (O Patrem1  em língua alemã). No entanto, na reorganização dos hinos pelo Hinário de Klug, em 1529, o mesmo coral encontrou lugar entre os hinos para funerais. E em 1542 o próprio Luther o incluiu na sua coleção de “Cânticos cristãos, em latim e alemão, para funerais”.
Em nosso hinário HPD o “Nós cremos todos num só Deus” foi colocado novamente entre os hinos que versam da santíssima Trindade. Pode ser cantado também em lugar do Credo nos nossos cultos, e mesmo para confessar a fé cristã em cerimônias funerais. Pois, ainda que não seja tão extenso como o Credo Apostólico, este hino apresenta um resumo daquilo que nós cremos, inclusive a esperança da vida eterna, após a luta.
No ano de 1963 nove estudantes de teologia da Faculdade de Teologia de São Leopoldo gravaram o primeiro disco LP da IECLB em Português. Ele recebeu o título “Nós cremos todos num só Deus”. Este mesmo hino faz a abertura dos 12 corais desta coleção.
Johann Sebastian Bach compôs algumas obras sobre este tema, p.ex.: BWV 437 Prelúdio coral, BWV 680 fughetta super, BWV 681fughetta, BWV 1098 toccata de órgão.
Ouça , BWV 680 [3:4]
Nota:

1. A expressão PATREM em lugar de CREDO originou-se da liturgia em língua latina. O sacerdote abria o credo cantando “Credo in unum Deum” (Creio em um só Deus), e então o coro respondeu cantando “Patrem omnipotentem” (o Pai onipotente). “Patrem” foi, pois, a primeira palavra que a comunidade reunida cantou.


Deus, o teu Verbo guarda a nós
Hino 90
1. Deus, o teu Verbo guarda a nós,
combate o inimigo atroz
que a Jesus Cristo, o Filho teu,
quer derrubar do trono seu.
2. Jesus, demonstra o teu poder!
Ó Rei dos reis, vem proteger
o povo teu – que possa amar
e eternamente te louvar!
3.Espírito Consolador,
dá-nos união, fraterno amor!
Na angústia vem nos amparar,
da morte à vida nos guiar!
Deus, o teu verbo guarda a nós
Comentário e reflexão
HPD 90 Deus, o teu verbo guarda a nós.
Este hino da autoria de Martim Lutero foi achado em um manuscrito de 1530, denominado de Luther Codex, publicado por O. Kade 1871 em Dresde, sob o título: Der Neugefundene Luther Codex vom Jahr 1530 (O recém-encontrado Códice de Lutero do ano de 1530).
O hino foi impresso em Wittenberg, 1541 ou 1542 em forma de folheto. Foi incluído no Magdeburger Gesangbuch de 1542, e no Geistliche Lieder de Joseph Klug, publicado em Wittenberg, 1543. Mais tarde recebeu o título de: Canção para Crianças, contra o Papa e o Turco, os dois principais inimigos de Cristo e de sua Igreja. Pois no segundo verso da primeira estrofe originalmente se cantava Und steur des Papsts und Türken Mord (e governe a vontade de matar do Papa e dos Turcos). O termo canção para crianças (= Kinderlied) subentende-se não como sendo uma canção infantil, e, sim, como um hino que originalmente foi destinado a ser cantado pelo coro dos meninos.
A maioria dos pesquisadores acha que Luther escreveu este hino em 1541, quando apareceu a Exortação para Oração contra os Turcos, a qual contém muitas expressões que igualmente se acham no hino.
Mas era principalmente durante os anos 1522-1529 que os Turcos ameaçaram a Alemanha. O Sultão, Suleiman II, que subiu ao trono em 1520, havia conquistado uma parte de Hungria e conquistou Rhodes em 1522. As hordas turcas varreram por cima dos limites de Áustria e arruinaram grandes partes das plantações. Foi dito que a grama não cresceu onde os Turcos tinham passado. Em 1529 eles sitiaram Viena e plantaram suas bandeiras ao redor dos muros de cidade. Durante aquele mesmo ano o Papa fez um esforço para destruir o trabalho da Reforma luterana.
Então, há razões boas para assumir que Luther, nesta época, 1528-1529, escreveu os dois hinos, Uma fortaleza poderosa é nosso Deus, e este hino (Kinderlied) contra os dois oponentes perigosos da Reforma. Anti-Cristo, diz Luther em uma das suas Conversas de Mesa, é o Papa e o Turco. A besta vivente tem que ter alma e corpo. O espírito, ou a alma, de Anti-Cristo, é o Papa; a carne, ou o corpo, é o Turco. Os ataques dos Turcos tentam destruir a Igreja de Deus, fisicamente. O Papa tenta fazer isto espiritualmente, mas também usa a força física, enforcando, queimando, e assassinando o testemunho do Senhor .
Em 1529 os Turcos sofreram a primeira derrota séria. O avanço deles foi detido, e depois de sofrer grandes perdas, eles retiraram-se de Viena. Bandos de Turcos ainda continuaram por muitos anos saqueando os territórios dos alemães, de forma que eles ainda por algum tempo tiveram que ser considerados como fonte de perigo sério.
As palavras contra o Papa e o Turco, que Luther usou neste hino, causaram certa estranheza. Em um documento de 1548 há uma recomendação de que o segundo verso seja mudado para a astúcia e o poder de Satanás. Esta mudança, porém, não aconteceu antes de 1714. Ela foi feita por Freylinghausen no seu Geistreiches Gesangbuch. Nos mais recentes hinários na Alemanha o segundo verso reza: und steure deiner Feinde Mord (e governe a vontade de matar dos teus inimigos). Em nosso hinário HPD esse verso é traduzido por combate o inimigo atroz. O singular o inimigo faz pensar no satanás, o arqui-adversário de Deus. Este inimigo se pode esconder atrás duma serpente tão bem como atrás de Papa e turcos.

Era natural que este hino de Luther despertasse grande indignação entre os católicos. Nos distritos debaixo de controle católico, este hino foi proibido estritamente, até mesmo em alguns lugares foi ordenada a penalidade de morte. Por exemplo durante a Guerra dos 30 Anos: em 10 de maio de 1631, General Tilly (católico) entrou em Magdeburgo e massacrou os habitantes (evangélicos). As ruas foram cobertas literalmente com cadáveres e moribundos. Um grupo de crianças escolares, cantando o hino de Luther, veio marchando pela praça. Prontamente foram degoladas e lançadas no fogo pelos soldados de Tilly. Conta-se que Tilly se arrependeu mais tarde desta ação, mas que depois do dia deste massacre ele não teve mais sucesso na sua campanha. A queda de Magdeburgo foi celebrada pelo Papa com grandes festividades.

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